sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Óleo sobre tela/ Neyde Noronha-Data1997- Doação Vila Militar Rio de Janeiro
                                                                                  
                                                             Retalhos de mim




Neyde Noronha




Hoje chorei


porque percebi


que não sonho mais


Não amo mais , como amei.






Hoje percebi


que não tenho motivos,


nem objetivos


Que senti inveja dos beijos que vi


Do encanto do encontro.




Chorei porque entreguei na bandeja


uma cópia do que do que fui,


do que sou e do que ficou:


Retalhos de mim.





                                                                                 

MOEDA VENDIDA

Às vezes penso


Que sempre estive à venda


A troco das últimas esmolas


Esquecidas por um abade

Debaixo dum falso sudário rubro


Numa aldeia abandonada


Talvez valha os trocos


Caídos numa viela


Ao lado de um velho vagabundo


Que não chegou a ver o amanhã



Talvez uma moeda escurecida


Que rasgou teus bolsos


E se anichou numa bainha


Mal acabada


Do fundo da tua saia…





Talvez seja moeda de troca


De um tuaregue


De séculos passados


Infiltrada nas areias


Ainda escaldantes


Talvez valha


Um segundo perdido


Num relógio há muito parado


Ou uma gota de água


Congelada na ferrugem


Da torneira da crença…


Poderei valer


Um último gomo


Duma laranja apodrecida


Numa árvore


Que nem sei se já foi cortada…


Ou talvez ainda valha


A verdade enevoada


Da última mentira


Que contei a mim próprio


E acreditei…


Que me apaixonei


Por um reflexo


Numa noite de luar negro…


Sei que ontem



Caminhava sozinho num empedrado


E por entre sons e ecos


De passos meus


Pareceu-me ouvir um tilintar oco


Mas nem para trás olhei


Agora de bolsos vazios


Sei que era o som


Da minha última moeda vendida…


JC Patrão






Agradeço aos assinantes deste blog os elogios e a leitura que tanto me previlegia e analtece. Com o meu especial carinho a todos o meu abr...