sexta-feira, 10 de setembro de 2010

                                                                                 

MOEDA VENDIDA

Às vezes penso


Que sempre estive à venda


A troco das últimas esmolas


Esquecidas por um abade

Debaixo dum falso sudário rubro


Numa aldeia abandonada


Talvez valha os trocos


Caídos numa viela


Ao lado de um velho vagabundo


Que não chegou a ver o amanhã



Talvez uma moeda escurecida


Que rasgou teus bolsos


E se anichou numa bainha


Mal acabada


Do fundo da tua saia…





Talvez seja moeda de troca


De um tuaregue


De séculos passados


Infiltrada nas areias


Ainda escaldantes


Talvez valha


Um segundo perdido


Num relógio há muito parado


Ou uma gota de água


Congelada na ferrugem


Da torneira da crença…


Poderei valer


Um último gomo


Duma laranja apodrecida


Numa árvore


Que nem sei se já foi cortada…


Ou talvez ainda valha


A verdade enevoada


Da última mentira


Que contei a mim próprio


E acreditei…


Que me apaixonei


Por um reflexo


Numa noite de luar negro…


Sei que ontem



Caminhava sozinho num empedrado


E por entre sons e ecos


De passos meus


Pareceu-me ouvir um tilintar oco


Mas nem para trás olhei


Agora de bolsos vazios


Sei que era o som


Da minha última moeda vendida…


JC Patrão






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